Pressionado pelo dólar alto, BC deve subir juro pela quarta vez consecutiva
Taxa básica da economia deve avançar de 8,5% para 9% ao ano hoje.
Economista vê IPCA ao redor de 6% em todo governo Dilma Rousseff.
Pressionado pela alta do dólar e seu respectivo impacto na inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a taxa básica de juros da economia,
a Selic, em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (28) de 8,5% para
9% ao ano. Se confirmada, será a quarta elevação consecutiva, levando os
juros ao maior patamar desde março de 2012. A decisão será anunciada
após as 18h.
Antes da alta recente do dólar, a expectativa do mercado era de que o aumento dos juros total previsto para este ano seria de um ponto percentual, passando de 7,25% para 8,25% ao ano no fim de 2013.
Segundo o economista da
Tendências Consultorias, Silvio Campos Neto, a expectativa de alta dos
juros nesta quarta-feira, com o objetivo de conter a inflação, está tão
consolidada nos economistas do mercado financeiro que o foco principal
da reunião não será nem mesmo a decisão em si, mas o comunicado que
sairá após o encontro e, posteriormente, na ata do Copom a ser divulgada
na semana que vem.
A expectativa é sobre as sinalizações que a autoridade monetária poderá
dar sobre os próximos passos da política de juros. Até o momento, o
mercado financeiro acredita em, pelo menos, mais uma nova alta dos juros
ainda neste ano, em outubro, para 9,5% ao ano. Campos Neto, porém,
prevê que os juros poderão subir ainda mais, chegando ao fim de 2013 em
9,75% ao ano - bem próximos da marca de 10% ao ano.
"O câmbio é e tem sido a variável de maior destaque e deve condicionar
estas novas decisões de altas dos juros [pelo Copom]. Os preços já
começam a ter efeito desta mudança no câmbio. A manutenção de um patamar
do dólar próximo de R$ 2,40 gera novos efeitos na inflação neste ano",
declarou o economista da Tendências.
Repasse para os preços
Analistas lembram que quase 25% dos produtos consumidos em nossa
economia são importados, resultando em impacto inflacionário quando a
moeda norte-americana se valoriza. Até meados do mês de maio, o dólar
operava ao redor de R$ 2 no Brasil. Desde então, porém, registrou alta
e, atualmente, tem mais próximo de R$ 2,40.
Os economistas avaliam que uma alta de R$ 0,10 no preço do dólar
poderia ter um impacto de cerca de 0,2 ponto no IPCA deste ano. Deste
modo, se o dólar estava em cerca de R$ 2 antes da sinalização do BC
norte-americano e passou, atualmente, para um valor próximo de R$ 2,40, o
impacto seria de aproximadamente 0,8 ponto percentual no IPCA.
Entretanto, o dólar teria de permanecer neste patamar para que o
repasse aconteça de forma integral. Para Campos Neto, da Tendências, uma
alta de 20% no dólar, como está ocorrendo neste ano, para cerca de R$
2,40, teria um impacto de mais ou menos um ponto no IPCA de 2013.
Antes da alta recente do dólar, a expectativa do mercado era de que o
aumento dos juros total previsto para este ano seria de um ponto
percentual, passando de 7,25% para 8,25% ao ano no fim de 2013. Após a
disparada do câmbio, os economistas dos bancos passaram a prever um
ciclo bem maior de alta dos juros: para 9,5% ao ano no fim de 2013.
Inflação
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os
juros para atingir as metas pré-estabelecidas. Para 2013 e 2014, a meta
central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois
pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode
ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Ao subir os juros, o BC atua para controlar a inflação e, ao baixá-los,
julga, teoricamente, que a inflação está compatível com a meta. Em doze
meses até julho, o IPCA, que serve de referência para o sistema de
metas de inflação brasileiro, somou 6,18%.
Em 2011, a inflação foi de 6,5% e, no ano passado, totalizou 5,84%. O
economista Silvio Campos Neto prevê um IPCA próximo de 6% também em 2013
e 2014. "Houve redução dos juros em 2012 onde não havia justificativa.
Isso sugeriu que BC nao mirava [na meta central de 4,5%] e isso é fatal
em um regime de metas. Caso não busque o centro da meta, acaba perdendo a coordenação de expectativas", avaliou o economista.