''Stalker'' sente desejo incontrolável de seguir vida alheia pela internet, diz especialista
Ter a curiosidade de olhar perfis em redes sociais,
principalmente de ex-namorados ou pretendentes, é um hábito comum. O
problema é quando o "seguir" vira "perseguir" (ou "stalking", em
inglês). Para saber a diferença entre esses comportamentos na internet, o
UOL Tecnologia entrevistou Katty Zúñiga, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática) da PUC-SP.
Segundo ela, o alerta é dado quando a pessoa deixa de lado tarefas
cotidianas para vigiar a vida alheia – seja dentro ou fora das redes
sociais. "É normal e muito comum ter curiosidade sobre o que o ex faz ou
com quem está saindo. São curiosidades naturais. Mas, se este
comportamento é constante e feito várias vezes ao dia, com a intenção de
vigilância, aí sim falaríamos de uma pessoa obcecada por outra",
explica.
Se a pessoa sente uma necessidade incontrolável de ficar a par de tudo o
que o outro está fazendo, diz a especialista, isso é sinal do
comportamento obsessivo associado aos "stalkers". "Uma vez por dia é mais que suficiente para acompanhar o outro de uma maneira saudável, desde que isso não seja feito como um ritual", alerta.
Veja abaixo a entrevista na íntegra com a psicóloga:
UOL Tecnologia – É normal acompanhar as atividades de alguém, como ex-namorados ou 'pretendentes', nas redes sociais?
Katty Zúñiga – A princípio, é normal e muito comum ter
curiosidade sobre o que o ex faz ou com quem está saindo. São
curiosidades naturais. Mas, se este comportamento é constante e feito
várias vezes ao dia, com a intenção de vigilância, aí sim falaríamos de
uma pessoa obcecada por outra, o que seria um distúrbio.
UOL Tecnologia – Seria possível precisar quantas vezes por dia é normal olhar o perfil de outra pessoa na internet?
Katty – Não dá para quantificar isso. Depende muito da
personalidade de cada um. Mas, se a pessoa sente uma necessidade
incontrolável de ver tudo o que o outro está fazendo, novamente diríamos
que é um comportamento obsessivo. Agora convenhamos: uma vez por dia é
mais que suficiente para acompanhar o outro de uma maneira saudável,
desde que isso não seja feito como um ritual.
UOL Tecnologia – Quando a curiosidade passa a ser um comportamento doentio? Há um ponto de alerta facilmente identificável?
Katty – Deixa de ser uma curiosidade e passa a ser um
comportamento doentio quando justamente a pessoa perde o controle e
deixa de fazer suas atividades cotidianas para poder ficar vigiando o
outro.
UOL Tecnologia – Acordar de manhã e olhar imediatamente o perfil do outro na rede social faz da pessoa um "stalker"?
Katty – Provavelmente sim. Não há nada que o outro
tenha feito que exija tamanha urgência para o acompanhamento. Exceto em
casos muito específicos, como, por exemplo, o nascimento de um bebê
previsto para aquela manhã. Também não há nenhum problema fazer isso de
forma esporádica, quando se acorda pensando naquela pessoa.
UOL Tecnologia – Ter um perfil falso para bisbilhotar o perfil dos outros é indício que a pessoa é uma perseguidora online?
Katty – Novamente sim, porque, se você quer
saudavelmente saber o que está acontecendo com uma pessoa, você pode
usar seu próprio perfil. Se você está usando um perfil fake, isso já
sugere que você está querendo ter acesso a uma informação que você não
deveria ter.
UOL Tecnologia – Se a pessoa olha o perfil de outra pessoa e se sente mal (com ciúme, triste, chateado), é sinal de "stalking"?
Katty – Não necessariamente. Você pode visitar o
perfil de uma pessoa uma única vez e sentir ciúme, por exemplo. E isso
não seria stalking.
UOL Tecnologia – Se a pessoa passa a mandar mensagens com
frequência para a pessoa nas redes sociais, isso faz dela uma
perseguidora online?
Katty – Provavelmente sim, se elas forem
injustificadas e principalmente contra a vontade do outro. É diferente,
por exemplo, de mensagens trocadas em um grupo de trabalho.
UOL Tecnologia – Existe um limite de contato para não parecer um ''stalker''? Uma vez por dia? Duas no máximo?
Katty – Não. Isso depende do bom senso de um lado e de quando o outro lado passa a sentir sua privacidade invadida.
UOL Tecnologia – Como a pessoa pode evitar se tornar uma perseguidora nas redes sociais?
Katty – Um stalker em rede social é um stalker fora
dela, ou seja, a rede social é apenas uma ferramenta que facilita esse
comportamento. Se você sente necessidade de seguir alguém, reflita por
que está fazendo isso, qual o sentido dessa atitude.
Comportamentos semelhantes acontecem quando se é criança, porém de
maneira pontual e fugaz, quando uma criança tenta imitar a outra. Isso
faz parte do desenvolvimento, já que ele demostra a preocupação de
pertencer ao grupo. Claro que, à medida que a criança vai crescendo, ela
vai usando cada vez mais seus próprios recursos para se individualizar.
Se uma pessoa com mais idade se vê fisgada por esse desejo de
perseguição, provavelmente alguma outra coisa na sua vida não está bem e
precisa ser cuidada. Nesse caso, o melhor a ser feito é procurar a
ajuda de um psicólogo.
UOL Tecnologia – Se a pessoa percebe que se comporta como
"stalker", o que a pessoa pode fazer em primeiro lugar para tentar sair
desse comportamento doentio?
Katty – Vale aqui a resposta anterior também. A
primeira coisa é ter consciência de que o problema existe: esse já é um
bom primeiro passo para querer modificar e melhorar. Nesse caso, a ajuda
profissional de um psicólogo será muito benéfica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário