Policiais cobravam R$ 300 mil por ano de traficantes; Denarc terá mudanças
Sete
agentes, entre eles dois delegados, foram presos por suposto
envolvimento em esquema de vazamento de inquéritos. Outras 3 detenções
ocorreram nas regiões de Ribeirão Preto e Campinas, onde escutas
motivaram a denúncia
Sete
policiais civis foram detidos nesta segunda-feira, 15, na capital
paulista e em Campinas, por envolvimento em um esquema de achaque a
traficantes e vazamento de inquéritos - seis eram integrantes ou
ex-funcionários do Departamento Estadual de Investigações sobre
Narcóticos (Denarc). As denúncias apontam para pagamento de propina
mensal de até R$ 30 mil. Após a operação, que incluiu a maior devassa no
departamento desde 1987 e levou a outras três detenções, a Secretaria
da Segurança destacou que o Denarc será reformulado.
Dois
dos presos eram delegados do departamento: o supervisor da Unidade de
Investigações (responsável pelo setor de inteligência), Clemente
Castilhone Junior, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3.ª Delegacia de
Apoio. Foram expedidos 13 mandados de prisão contra policiais - 11 em
São Paulo e 2 em Campinas, onde começou a investigação, com base em
escutas de traficantes feitas a pedido do Grupo de Atuação de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
O promotor
Amauri Silveira Júnior, do Gaeco de Campinas, disse que " a ação de
alguns policiais tornou impraticável o trabalho do Ministério Público"
na região de Campinas. "Tentou-se forjar evidência, comprometer e
constranger vítimas e testemunhas (...) Daí se pediu a prisão
temporária."
De acordo com ele, desde o começo das
investigações houve vários vazamentos de informações. Mas não confirmou
se o delegado Castilhone ou algum de seus subordinados diretos esteve
envolvido no repasse de dados de inteligência policial para os
criminosos. "Isso só a Justiça poderá dizer." Afirmou, porém, que há
indícios de mais policiais envolvidos - e novas investigações serão
feitas.
Durante a operação, com apoio da Corregedoria de
Polícia Civil, oito promotores ficaram quatro horas analisando
documentos no Denarc, em busca de provas. Segundo a promotoria, agentes
recebiam propina para passar informações ou retardar investigações.
Entre os crimes investigados estão roubo, extorsão mediante sequestro,
formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva e tortura.
De
acordo com o delegado Maurício Blazeck, o Denarc vai passar por uma
reestruturação, "não só por esse fato (a operação policial de ontem)",
mas por ser "um departamento com mais de 25 anos". Uma das ideias seria o
enxugamento de cargos. A Corregedoria não deu detalhes, mas relatou que
alguns suspeitos já enfrentavam processos disciplinares ou ações
penais, mas sem uma decisão definitiva.
O início
O
inquérito foi aberto em outubro contra traficantes ligados ao Primeiro
Comando da Capital (PCC) na região de Campinas. Segundo os promotores,
uma mulher suspeita de tráfico serviu como testemunha do esquema. No
entanto, a Promotoria obteve mais provas graças às gravações, quando
foram descobertas conversas do sequestrador Wanderson Nilton de Paula
Lima, o Andinho, preso desde 2002, mas que ainda mandaria no tráfico.
Criminosos
de Campinas, sob a chefia de Andinho, seriam obrigados a pagar anuidade
de R$ 300 mil para os policiais civis acobertarem ações e darem
informações, além de responder por mensalidades de até R$ 30 mil. A
situação saiu de controle quando houve atraso no pagamento de propina e
os policiais teriam cobrado dívidas até de parentes dos bandidos.
Como
uma das ramificações da operação policial desta segunda-feira, houve a
ocupação de favelas na cidade. Duas pessoas foram detidas: um
adolescente e a mãe de um acusado de tráfico, após a polícia encontrar
maconha em sua casa - outra pessoa foi detida em Serra. Um dos acusados
teria conseguido escapar do cerco.
Prisão 'arbitrária'
O
advogado de Castilhone, João Batista Augusto Júnior, considera que a
prisão do seu cliente foi arbitrária, mas ainda não tomou conhecimento
do inquérito. Segundo familiares do delegado, o suspeito sabia das
apurações, mas não imaginava que seria preso.
Castilhone é
tido como braço direito do diretor do Denarc, Marco Antônio de Paula
Santos. O chefe do órgão acompanhou as buscas da Promotoria na manhã de
ontem, mas disse que o assunto só poderia ser comentado pela
Corregedoria. "Eu não estava sabendo de nada."
Os defensores dos outros acusados não foram encontrados para comentar o caso.
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