Médico se desculpa por artigo contrário ao uso medicinal da maconha
O neurocirurgião americano Sanjay Gupta, chefe dos correspondentes para assuntos médicos da CNN, divulgou um artigo nesta quinta-feira (8) no site de notícias da rede em que pede desculpas por ter publicado, em 2009, um artigo contrário ao uso medicinal da maconha na revista Time.
Gupta, que está trabalhando em um documentário chamado "Weed" ("Erva
Daninha", em português), diz que passou o último ano entrevistando
especialistas, produtores, autoridades e pacientes em diversos países.
"O que eu descobri foi impressionante", relata.
Ele diz que havia feito uma revisão da literatura científica dos EUA na ocasião em que escreveu o artigo, intitulado "Por que
eu votaria contra a maconha". Mas admite que não havia pesquisado o
bastante, nem buscado estudos de qualidade de laboratórios menores, de
outros países. Além de ter desprezado o coro, "legítimo", de pacientes
que apresentaram redução significativa em seus sintomas com o uso da
erva.
O neurocirurgião cita um exemplo comovente de uma menina de 3 anos, Charlotte
Figi, do Colorado, que tinha cerca de 300 convulsões por semana apesar
dos medicamentos. Com o uso da maconha, ela passou a ter apenas duas ou
três ao mês. "Tenho visto mais pacientes como Charlotte, passado tempo
com elas, e concluí que é irresponsável não oferecer o melhor cuidado
possível a eles, cuidado esse que pode envolver o uso da maconha", diz o
médico no artigo.
Ele também cita um estudo recente em que 76% dos médicos responderam
que aprovariam a administração de maconha em mulheres com dores
decorrentes do câncer de mama.
Maconha
queima neurônio? PARCIALMENTE VERDADE: estudos comprovam que fumar
maconha antes dos 15 anos de idade diminui o QI, mas essas mesmas
pesquisas mostram que, após os 20 anos, a maconha não traz problemas
cognitivos. "Essa diferença tem a ver com a maturação do cérebro, porque
na adolescência ele ainda está terminando de se formar. Entre os 15 e
os 20 anos é uma faixa nebulosa, onde não foi possível comprovar qual o
impacto. Ainda assim, consideramos uma idade de risco", explica Thiago
Marques Fidalgo, psiquiatra do Hospital A.C.Camargo Leia mais Getty Images
Gupta questiona o fato de a droga fazer parte da categoria das mais
perigosas nos EUA, mais até que a cocaína. No entanto, ela provoca
dependência em cerca de 9% dos usuários, enquanto que, para a cocaína, a
proporção é de 20%, e para o tabaco, de 30%.
Ele acrescenta que a abstinência da erva não produz sintomas tão graves
quanto a do álcool, que pode até levar à morte. E, apesar de ter
procurado muito, ele garante que não encontrou ninguém que tenha morrido
por overdose de maconha. Por outro lado, uma pessoa morre a cada 19
minutos nos EUA em decorrência do abuso de remédios prescritos por
médicos.
Ele esclarece que a classificação da maconha foi estabelecida em 1970
pelo médico Roger Egeberg, então secretário de saúde, não por haver
estudos contundentes sobre os riscos da maconha, mas pelo fato de que
não havia estudos, na época, capazes de avaliá-los. Segundo ele, a maior
parte dos trabalhos sobre a droga se destina a investigar seus efeitos
negativos, e não seus eventuais benefícios - ele analisou mais de 20 mil
trabalhos recentes.
A justificativa para isso, o médico explica, é que não é nada fácil
obter autorização, muito menos conseguir a droga, que é ilegal, para
conduzir esse tipo de teste. "Temos sido terrivelmente e
sistematicamente enganados por quase 70 anos nos Estados Unidos, e peço
desculpas por meu próprio papel nisso", declara. Gupta diz esperar que o
artigo, assim como o documentário, sirvam como correção.
O neurocirurgião deixa claro, no entanto, que a maconha tem efeitos
deletérios à saúde, especialmente para os jovens, que ainda estão com o
cérebro em formação. Ele cita evidências de que a droga reduz o
desempenho em testes de QI e pode deflagrar psicose em indivíduos com
predisposição. "Da mesma maneira que eu não deixaria meus filhos beberem
álcool, eu não permitiria que usassem maconha até que chegassem à idade
adulta", pondera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário