Taxa de homicídios no Brasil segue lógica matemática
Um
pesquisador brasileiro criou uma fórmula matemática para tentar
identificar os fatores relacionados à ocorrência de assassinatos em
cidades do país. A partir de
uma análise estatística, ele disse ter identificado fatores que podem
ser relacionados a taxas maiores ou menores de homicídios.
Entre
esses fatores estão populações com menos mulheres que homens, altos
índices de desemprego e uma produção de riquezas maior que a esperada
para o tamanho da cidade.
A pesquisa poderia, no futuro, ajudar gestores públicos a elaborar políticas para reduzir as taxas de assassinatos no país, segundo o físico Haroldo Ribeiro, um dos autores da pesquisa.
Porém,
analistas afirmam que a pura análise quantitativa e matemática da
realidade pode não ser o bastante para explicar a dinâmica da violência.
Leis matemáticas
Ribeiro e sua equipe
analisaram dados do censo de 2010 sobre os mais de 5.500 municípios
brasileiros. Ele afimou ter identificado 'leis matemáticas' que
relacionam a ocorrência de homicídios com o tamanho da população das
cidades e com fatores sociais e econômicos.
O pesquisador afirmou
ter criado fórmulas para identificar patamares médios para taxas de
homicídio segundo o número de moradores de cada cidade.
Depois,
essas médias foram cruzadas com o número real de assassinatos ocorridos
em cada município, segundo dados do Ministério da Saúde, e relacionadas a
fatores como riqueza, desemprego, saneamento básico e analfabetismo.
De acordo com Ribeiro, por exemplo, se o número de mulheres de uma cidade for inferior ao de homens, as chances
de ocorrerem mais assassinatos no local sobem. De forma semelhante, se a
quantidade de riquezas produzida no município for maior que a esperada
para cidades de seu porte, a probabilidade de ocorrência de homicídios
também sobe.
O pesquisador disse que não é possível explicar como
esses fatores atuam exatamente, mas opinou que uma quantidade mas
balanceada entre homens e mulheres facilitaria a formação de famílias -
diminuindo a violência - e que a riqueza de uma cidade poderia atrair
criminosos de outras regiões, aumentando o número de mortes.
'É complicado fazer correlação exata para explicar as tendências porque todos os índices estão relacionados', disse.
Previsão de crimes
A
pesquisa foi publicada no jornal científico internacional Plos One.
Ribeiro afirmou que fórmulas semelhantes que levam em conta a população
das cidades também podem ser aplicadas a outros indicadores urbanos,
como trabalho infantil e renda familiar - para tentar explicá-los.
A
análise de dados em larga escala já é usada por alguns departamentos da
polícia americana e de algumas localidades da Grã-Bretanha para prever
locais de ocorrência de crimes.
Mas, para Keith Hayward, um
criminologista da Universidade de Kent, os dados de larga escala estão
'distantes da realidade do submundo' do crime.
'Eu tenho um
ceticismo considerável sobre o que pode ser inferido de análises
quantitativas e abstratas baseadas em problemas sociais. Eu não estou
dizendo que elas não podem ser uma ferramenta útil, mas algumas de suas
conclusões são muito problemáticas', disse.
Hayward afirmou se
preocupar com o uso de metodologia quantitativa como ferramenta. Mas
disse, por outro lado que revelar as relações entre o crime e outros
fatores urbanos pode ajudar a guiar políticas públicas e, como
consequência, contribuir para a prevenção da violência.
O
crimilnalista afirmou que o Brasil está melhorando a forma como lida com
o problema da criminalidade. Ele criticou, porém, a lentidão da
Justiça, que contribuiria para espalhar a 'cultura da impunidade'.
Gatilhos emocionais
O
criminologista David Wilson, da Universidade de Birmingham afirmou que
apesar dos homicídios 'seguirem a tendência de se concentrar em partes
da cidade com menores níveis de renda', a ideia de uma fórmula
matemática relacionada com o crescimento populacional 'ignora
completamente' os gatilhos emocionais que levam ao crime - o que ele
classifica como fatores de primeiro plano.
'O assassinato
geralmente está relacionado com humilhação, com circunstâncias nas quais
homens jovens entram em um conflito no qual um deles acaba querendo
vingança. Trata-se muito mais dos fatores de primeiro plano do que do
contexto de fundo que esse estudo analisa'.
'Esse estudo não captura o fenômeno do assassinato, que é baseado na emoção', disse Wilson.
Ele afirmou que relações estatísticas podem ser achadas em muitos tipos de dados 'mas isso não prova causa e efeito', disse.
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